sábado, janeiro 22

LEC final

Tabalho de avaliação sumativa

Redija um texto de não mais do que 2000 caracteres, de acordo com as seguintes indicações:
a) Tema/Tópico: P. chega a uma nova cidade.
b) Descrição: inserção de uma dimensão expressionista no início do texto.
c) Narração: Aplicação da lógica ‘media res’ no final do texto.
d) Poética: Criação de ritmo, de acordo com os pressupostos estudados no Bloco 10, nos parágrafos intermédios do texto.
e) Redija o seu texto de modo depurado, evitando o uso excessivo de afectação adjectivada, de substantivação abstracta e de registos explicitamente coloquiais.

Trabalho


A cidade amanhecia quando Pedro se apeou do táxi. Era a sua primeira vez e ficou desde logo preso à luz especial que banhava as ruas e praças, de casas baixas e brancas, com telhados cor de ardósia. 
Dirigiu-se ao meio da praça, de onde, junto ao chafariz, podia avistar as várias ruas que nela confluíam. Acima do telhado da igreja dos Jesuítas avistou o casario que trepava até às montanhas, pontilhando o verde da vegetação. Agradava-lhe a calma das ruas apesar do incessante corrupio de transeuntes e dos carros apressados. No café fronteiro algumas pessoas aproveitavam o sol matinal enquanto tomavam o pequeno-almoço, alguns taxistas, encostados à parede de cantaria da escada que dava acesso à igreja discutiam as incidências do jogo de futebol do dia anterior.  Um grupo de meninos do jardim-escola passava, em fila Indiana, dois a dois, com os bibes aos quadrados e os chapelinhos azuis, serpenteando pelo passeio.
As crianças recordaram-lhe a razão para ali estar, viera dar aulas numa escola primária e, de certo modo, fugir de uma vida agitada numa cidade grande e conhecer gente nova, ainda mais aquela gente que diziam ser tão acolhedora.
Pensou no percurso que fazia diariamente de casa até à escola, a caminhada apressada até à estação de metro, sempre apinhada, a diversidade de pessoas que consigo viajavam, a própria viagem, umas vezes apertado entre uma senhora anafada e um homem barbudo, outras entre grupos de estudantes e de empregados de escritório, as faces quase sempre resignadas, pensativas, tristonhas, o cheiro a transpiração, as paragens até chegar à estação de saída, o mergulho no movimento constante de peões apressados e bruscos, a quase corrida até à paragem de autocarros, mais uma viagem, muitas vezes de pé, até à paragem mais perto da escola e ainda assim a 15 minutos de caminho. E o mesmo na volta, ao fim do dia, com o cansaço acumulado do dia de aulas difícil e exigente.
- Mas porque vais para tão longe?
A pergunta da mãe ainda ressoava nos seus ouvidos, respondera que queria uma vida mais calma, numa cidade mais pequena e tranquila, mas não era só isso, era também a fuga à saudade, à dor, à tristeza. Era a recordação daquele passado, as palavras que não pronunciara, que não pronunciaria, o medo de ser mal interpretado, o terror da rejeição.

LEC 10

Exercício da semana - 10

Rescreva o texto de António Lobo Antunes (“Exemplo A”), utilizando igualmente a repetida regência “Como se não bastassem”, mas tendo agora em vista a atmosfera observada ou imaginada por si numa praça de uma grande cidade (ou noutro qualquer cenário banhado por uma multidão).

Trabalho

Como se não bastasse a chuva irritante e fria que cai sem cessar, o mendigo que toca no acordeão uma música monocórdica, o buzinar impaciente dos automobilistas, a horda de pessoas que passam em todas as direcções, apressadamente, como se não bastasse o cauteleiro a apregoar os números da lotaria, o bando de pombos a debicar febrilmente o milho que uma senhora, de andar lento e compassado, lhes atirou, como se não bastassem as pessoas que se atropelam e acotovelam para entrarem no autocarro, na ânsia e no medo de não chegarem a tempo ao emprego, os que saem cabisbaixos e derrotados do centro de emprego, sem respostas, sem saídas, como se não bastassem as beatas que saem, estremunhadas, da igreja depois da missa matinal, encolhendo-se debaixo dos guarda-chuvas, como se não bastassem os estudantes que gargalham e palram ruidosamente, o futuro está aí irremediável e inadiavelmente próximo.

LEC 9

Exercício da semana - 9

Redija vários textos com apenas uma a duas linhas onde deverá alinhar palavras por si escolhidas que ilustrem ou traduzam a ideia de:

a) O som do rio que corre.
A sensação de tempo perdido.

Atenção: não se trata de descrever o local onde “o rio corre”, ou onde tem lugar a “conversa tempestuosa”, ou ainda onde foi vivida a sensação de “tempo perdido”. Nem se trata de narrar o incidente no qual a “pessoa X” esperou por algo, nem o que estaria a acontecer no momento em que um determinado “olhar” foi “trocado na via pública”. Trata-se, sim, de traduzir esses estados de alma - que são da ordem da intimidade - por sequências de palavras, de tal modo que o leitor possa sentir uma empatia rítmica, ou rever esse mesmo estado de alma através das palavras utilizadas. 
Trata-se, por outras palavras, de um exercício poético. 
Sinta-se livre, deixe chegar ao seu rascunho dezenas de palavras e alinhe, depois, as que bem entender tendo em vista o ritmo e a ‘musicalidade’ ideais para cada caso (sinta-se o “som da água do rio”, sinta-se o pedaço de tempo “perdido” ou “esperado”; sinta-se o próprio “olhar” que se troca e… sinta-se como se fosse a “tentação” ou o “silêncio” subitamente vivido).

Redija, na segunda parte deste exercício, vários pequenos textos (com cerca de duas linhas no máximo) que traduzam uma ambiência similar à que esteve presente na imaginação de José Tolentino Mendonça, quando escreveu os seguintes versos (extraídos de vários poemas de Baldios, Assírio & Alvim, Lisboa, 1999):

c) “A obscuridade brilha para lá/ da própria enseada” (A Casa);
d) “Contra o coração/ abraçava ramos de flores magras e azuis/ sentimentos muito triviais/ e por vezes a maior escuridão” (Fogueiras e gelos);

Atenção: concentre-se na auto-referencialidade dos termos que vier a utilizar. Quando escolher as palavras, interiorize-as como termos realmente independentes e autónomos, como puras sonoridades à procura de um corpo desejado.
Liberte-se das significações dadas e atribuídas aos vocábulos no senso comum, no âmbito da convenção, ou no quotidiano. Utilize o seu léxico como se fosse um criativo de design, sendo que a sua cultura material, neste exercício, é o próprio material linguístico.
Não se esqueça de ser corrosivamente livre no seu jogo de rascunhos.
Escreva e reescreva sem temor, desinibidamente.
Repita-se: reescrever de modo poético é reinventar, apenas isso. A única fidelidade que não deverá esquecer é a do “ambiente”, a da “atmosfera” ou a da “intimidade” que o léxico utilizado pelo autor - neste caso, José Tolentino Mendonça - terá traduzido.

Trabalho

a) O som do rio que corre.
Saltitante sussurro cantante
Murmúrio da corrente, quase silêncio
Águas bramindo em fúria


b) A sensação de tempo perdido.
Relógio parado inerte
Sala vazia, silêncio sepulcral, vida inanimada
Tic … tac … tic … tac … tic … tac ...

c) “A obscuridade brilha para lá/ da própria enseada” (A Casa);
Escuridão pontuada pelo brilho da lua reflectida nas águas mansas da baía sossegada, ânforas perfeitas de claridade suave
Barcos que baloiçam na calma enseada, brisa brilhante que sopra contínua e murmurante, as nuvens que se espalham, escuras, destacando a luz que a brisa esfarrapa
Na linha do infinito, onde o mar se confunde com o céu como se fosse um só corpo ondeado, as estrelas cintilantes iluminam a obscuridade azul

d) “Contra o coração/ abraçava ramos de flores magras e azuis/ sentimentos muito triviais/ e por vezes a maior escuridão” (Fogueiras e gelos);
Colhera um ramo de miosótis e apertava-os agora contra o peito, embalados pelo bater desordenado do coração, movido por sentimentos contraditórios de amor e ódio.
Vendaval de sensações, de emoções, transbordantes, calmaria e tempestade, luz e escuridão, sol e eclipse, as flores azuis, da cor do céu e do frio.
As centáureas e as tumbérgias misturavam-se numa miríade de azuis que ela abraçava enquanto a invadiam ondas de sentimentos

LEC 8

Exercício da semana - 8

Alie a descrição à narração num curto “incidente”, subordinado à seguinte situação ficcional: “Foi o ciúme que impediu Raul de dormir” (não ultrapasse um máximo de sete a oito linhas).

Trabalho:

No quarto mergulhado na escuridão, aliviada apenas pelo piscar ténue do anúncio de néon do café da frente, Raul não consegue dormir. Enovelado na cama, de lençóis ensopados de suor, é incapaz de deixar de pensar naquilo, durante toda a noite viu a cena como na tela de um cinema, sempre a passar-lhe na frente dos olhos, tinha sido só um olhar mas ele via-o como todo um mundo de intenções e de desejos, de promessas que, a ele, nunca tinham sido feitas. Caminhava pela marginal com Rita quando se cruzaram com Mariana e sentiu, quando elas se olharam, que estava definitivamente a mais, que aquele não era o seu lugar e apesar da conversa banal que se desenrolou entre ambas, aquela impressão persistiu e impediu-o de dormir.

LEC 7

Exercícios da semana - 7

Imagine que o “Texto 1”, escrito para o “Exercício 6” (na semana passada, escrita homodiegética), era apenas o início de uma longa história cuja complicação afinal é longa e cujo desfecho é seguramente inimaginável. Dessa narrativa possível, redija apenas a parte correspondente ao “clímax” (não ultrapasse um máximo de doze a quinze linhas).

Trabalho:

Caminho em direcção ao elevador acompanhada pelo eco dos meus passos no cimento. Enquanto espero que ele chegue noto no chão uma mancha escura, parece um pingo de ferrugem. Quando a porta se abre já me esqueci da mancha mas relembro-a logo porque vejo marcas de dedadas da mesma cor, mas mais viva, junto ao botão do terceiro andar e no chão. Carrego com todo o cuidado no botão evitando o contacto com a substância que, agora com luz e mais de perto, parece ser sangue. 
O elevador pára, a porta abre-se, antes de sair olho para o chão e vislumbro nele, à fraca luz do exterior, não manchas mas pequenas poças da mesma substância, cada vez mais penso em sangue, não sei se devo sair do elevador, o pânico começa a crescer, sinto-o em ondas, sufoco um grito, não vejo vivalma, alcanço o interruptor e o hall ilumina-se. Agora vejo nitidamente que há manchas em ziguezagues que vão até à esquina. Não sei se avanço ou não, continuo com medo, sinto uma presença na zona que não consigo ver, mas não posso continuar ali, posso correr perigo, podem ter assaltado alguém do prédio, preciso arriscar e alcançar a minha porta e a segurança do meu apartamento. Avanço em direcção à porta e, de repente, vejo-o no chão.

LEC 6

Exercício da semana - 6

Escreva um pequeno texto que traduza, em cerca de dez linhas, um dos seus itinerários mais rotineiros (ida para o emprego ou para a universidade, regresso a casa ao fim da tarde, ida às compras, regresso de casa de um amigo, etc.).
Transponha esse texto para os três tipos de ponto de vista que estudámos neste Bloco: homodiegese, heterodiegese, e prática polifónica.

Trabalho:

Homodiegese

Está na hora de regressar a casa depois de mais um dia de trabalho. São 18h15m de um dia chuvoso de Novembro, a noite começa a lançar o seu manto sobre a cidade quando mergulho no trânsito. 
Parada no semáforo fronteiro à EEM observo o paquete todo iluminado que parte do porto rumo ao desconhecido e invejo aqueles que partem a caminho de outras descobertas. 
O vermelho passa a verde, e a fila de carros serpenteia, devagar, passando pelas filas de pessoas que esperam pacientemente o autocarro que as há-de levar a casa. Estudantes, aos magotes saem da Cristóvão Colombo, O resto do caminho é relativamente rápido, estou já frente à garagem, espero que a porta, accionada pelo comando automático se abra e estaciono no meu lugar.
Caminho em direcção ao elevador acompanhada pelo eco dos meus passos no cimento.

Heterodiegese

As aulas terminaram e ela dirige-se apressada para o carro fugindo à chuva miúda que teima em cair. As noites de Novembro são longas, pensa, enquanto mergulha no trânsito, já é quase noite.
Enquanto espera que o semáforo passe de vermelho a verde, mira o paquete que sai do porto e pensa em como seria bom ir nele, conhecer outras paragens, outros portos.
O avançar lento do trânsito dá-lhe tempo de observar as pessoas que esperam o autocarro nas paragens da Avenida do Mar, parecem-lhe pacientes mas pode ser só cansaço. Mais um quilómetro e vê, pelo canto do olho, os estudantes da Cristóvão Colombo que saem das aulas conversando e rindo.
Ao chegar à frente do prédio abre, com um gesto automático a porta e estaciona no seu lugar. Os seus passos perdem-se, ecoando, na direcção do elevador.

Prática polifónica


Saída da escola apresso-me em direcção ao carro passando entre as conversas dispersas.
- O meu filho está com uma otite, até pensei em faltar hoje.
A noite cai agora tão cedo, é Novembro, cai uma chuva miudinha, irritante.
- A professora foi injusta comigo, eu não estava a fazer nada, não achas?
- Mas que queres, acho que ela não gosta de ti, tomou-te de ponta!
O interior do carro é confortável e percorro a avenida lentamente, até dá para observar o paquete que sai e se dirige para o mar alto, todo iluminado, vontade de partir também.
-O autocarro nunca mais vem, ainda tenho jantar para fazer e roupa para engomar.
- Olha o Benfica lá conseguiu ganhar depois das derrotas com o Porto e o Hapoel.. Não vale sequer a pena comprarmos o jornal, amanhã na escola lemos na internet.
Chego finalmente a casa ainda com os ecos dos farrapos de conversas e dos meus passos no cimento.

LEC 5

Exercício da semana - 5

Leia atentamente o texto (em baixo) de José Rodrigues Miguéis.

Escreva dois epílogos, ou dois desenlaces, para o texto de José Rodrigues Miguéis, de acordo com a máxima acima referida: “dar ao leitor o que ele quer, mas não da forma como ele espera”. Não ultrapasse, em cada um dos textos, o máximo de oito a dez linhas.

“Fica o número 13...

Com este número odioso gravado na retina, ponho-me a andar a toda a pressa. Procuro as ruas mais estreitas, onde há menos luz e o movimento é menor. Na penumbra, avultam carroças de muares enormes e tranquilas roendo o jantar com as cabeças mergulhadas nas alcofas. Junta-as gente nas tabernas, donde sai um rumor grosseiro de vozes e de louças que se entrechocam, e um fumo acre de azeite queimado e peixe frito. Um fumo azul... Olho o céu: é noite fechada e, por cima dos telhados, alastra o clarão sanguíneo das luzes e passa confuso o clamor das buzinas dos autos.
- Perdão, queira desculpar...

Um moço de casaco amarelo esbarra comigo, ao sair duma tabacaria para pôr os taipais. São horas de fechar. Entro e peço um copo de água. Há luz de gás, como noutro tempo. Lembrou-me agora a Baixa vasta e sossegada, que a melancolia verde do gás iluminava, a Baixa da minha infância, com o seu ar tão simples e honesto, limpa e discreta... E sinto saudades.”

(José Rodrigues Miguéis, Páscoa Feliz, Estúdio Cor, Lisboa, 1974)

1 - “O Quê”: a própria ocorrência, os eventos que se actualizam no tempo. Proposta de emprego escolheram o número 13 e Tomás que era o número 5 foi rejeitado vagueia pela cidade a remoer o insucesso
2 - “Quem”: personagens (que geralmente se opõem e digladiam); - Tomás e empregado da tabacaria
3 - “Como”: o modo como se desenrolam as ocorrências;
4 - “Quando”: o momento em que tem lugar a ocorrência; 9 da noite
5 - “Onde”: a topografia onde se inscreve a ocorrência; ruas estreitas, parcamente iluminadas de Lisboa, calçadas, estreitas, casas baixas, antigas
6 - “Porquê”: a causa, a razão, ou o motivo que originou a ocorrência;
7 - “Porque”: consequência, ou súmula de resultados da ocorrência. 

Trabalho:

Epílogo 1

… E sinto saudades. 
Sinto saudades da infância, da vida pacata, das brincadeiras na rua com os amigos. São nove da noite e cá estou eu, ao balcão da Tabacaria no meio da praça, olhando as ruas estreitas, parcamente iluminadas, de casas baixas, antigas. Quero entabular conversa com o empregado mas a minha boca está seca, a água desce a custo pela garganta, o número treze continua a martelar-me a cabeça. Preciso que me salvem dos meus pensamentos, da demência, uma ocupação que me livre da obsessão que continuo a sentir pelo passado, pelo que foi, pela vida regrada, pelo emprego excelente que me proporcionava tantas regalias e que perdi naquele pano verde, na roleta, o maldito número treze.

Epílogo 2

… E sinto saudades.
O café decadente onde entrei está praticamente vazio, só um velho com roupa surrada, ao canto, fuma um cigarro sonolento. Sinto que o medo me invade, não devia ter estado naquele lugar àquela hora, agora a minha vida não vale nada, serei perseguido por todos os membros da irmandade, eles não perdoam a traição, tive o azar de estar no lugar errado à hora errada, treze horas e treze minutos, sinto passos apressados que se aproximam, os tacões batendo ritmicamente na calçada da rua estreita e escura, ela entra de súbito no café e olha-me sem piedade, sinto que a minha vida está prestes a terminar, que nada me salvará do inferno, olho-a procurando ainda um resquício de perdão mas ela é implacável e, num movimento imperceptível, atira a faca que atravessa a sala e se crava no meu coração.

LEC 4

Exercício da semana - 4

Reescreva o ambiente de um conjunto de caçadores (ou de escuteiros ou de ecologistas - escolha à sua vontade) a avançar pelo campo virgem e selvagem. Reutilize algum do léxico utilizado no “Exemplo A” (texto de Mário Ventura).
Não ultrapasse as sete ou oito linhas.

Trabalho:

O grupo de caçadores, antecedido pelos cães arfantes, avança pelo campo pintado pelos tons castanho-avermelhados do Outono. As folhas secas dos álamos, dos plátanos e de muitas outras espécies que atapetam o chão, vão estalando levemente sob os seus passos, enquanto se ouve, ao longe, o rumorejar do regato. Avançam com cuidado, atentos, empunhando as espingardas, os cães a farejar as presas, em busca dum bando de perdizes, por entre as estevas. De súbito os cães começam a ladrar e desaparecem no meio dos arbustos, uma leve brisa murmura por entre as árvores e um bando de perdizes levanta voo. O ar, até aí só povoado pelos sons da natureza, enche-se de estampidos secos e várias aves caem, ceifadas em pleno voo pelos tiros.
  

LEC 3

Exercício da semana - 3

Recrie o estimulante texto (em baixo) de José Rodrigues Miguéis, reescrevendo-o por duas vezes (podendo, em ambas as situações, adicionar ou subtrair palavras, de tal modo que os textos acabem, no final, por reflectir dois tipos diversos de descrição de personagens).

O primeiro deverá focar o movimento de fora para dentro (dando mais atenção aos motivos e aos estímulos ocasionais exteriores à personagem - procedimento dominantemente impressionista).

O segundo deverá focar o movimento de dentro para fora (reinventando a alma da personagem e dando assim mais atenção às suas possíveis mundivivências interiores - procedimento dominantemente expressionista).


“Madame Lambertin era flamenga à vista desarmada, e de maneiras bastante livres, mas com certa tinta bondosa. Devia passar bem dos trinta. Quando sorria, o sorriso enchia-lhe a cara toda. Tinha os olhos verdes e bastante vivos. Da janela do meu quarto passei a vê-la atravessar todos os dias a rua, a caminho da brasserie da esquina, em frente, onde ia aplacar um deus insaciável. Voltava com uma cabazada de garrafas de Gueze. Chegava a beber (soube-o depois) às dezoito e vinte por dia. Era decerto o que lhe estragava a frescura, ainda apreciável através da retícula vermelha que já lhe bordava as faces.”

(José Rodrigues Miguéis, Léah e Outras Histórias, Editorial Estampa, Lisboa, 1960)

Trabalho:

Texto 1

Todos os dias, da janela do meu quarto, a via passar. Madame Lambertim era alta, roliça e andava como se flutuasse por entre espigas de trigo maduro. Na face oval e rosada - emoldurada por caracóis ruivos que caíam suavemente, desmanchando-se, nas têmporas - destacavam-se os seus olhos verdes, líquidos e a boca de lábios rubros, carnudos, que se abria num sorriso amplo que a iluminava. Atravessava a rua na rotina diária de se dirigir à brasserie da esquina, onde se abastecia da sua bebida preferida, a cerveja Gueze, que bebia em quantidades generosas sem se preocupar com a teia de linhas vermelhas que lhe iam cobrindo as faces e tirando a frescura das suas mais de trinta primaveras.

Texto 2

Madame Lambertim, os seus olhos verdes emanando uma certa bondade, a vivacidade do seu caminhar, leve, flutuante. Uma doçura e um frescor de fruta silvestre. Quando todos os dias se dirigia à brasserie da esquina fazia-o com um sorriso largo estampado na sua face de pele translúcida, transpirando felicidade. A Gueze que todos os dias tomava desenhava-lhe nas faces linhas vermelhas, bebia-lhe a frescura e o vigor dos seus trinta e tal, quase quatenta anos, a plenitude outonal da sua beleza.

LEC 2

Leia atentamente (em baixo) este belo texto de Ferreira de Castro.

Reescreva-o duas vezes, tentando manter a sua dimensão (mais ou menos seis linhas). 

Na primeira recriação, faça com que o texto de Ferreira de Castro se transforme numa descrição dominantemente objectiva. 

Na segunda recriação, faça com que o texto de Ferreira de Castro se transforme numa descrição dominantemente subjectiva.


“Com a chuva, a neblina ia-se rasgando, descendo, separando-se em farrapos e deixando a descoberto trechos de terra, como se dum mar de espuma surgisse um arquipélago. Sobre as pedras lavadas apareciam as mulheres; retardatárias, que caminhavam, apressadamente, em direcção à igreja, uma das mãos no guarda-chuva, a outra a levantar um pouco as saias, para que a água não as esparrinhasse. Não se via o rosto de nenhuma delas.”
Ferreira de Castro, A Missão - 3 novelas (A Experiência), Guimarães & Cª., Lisboa, 1954

Trabalho:
L
Descrição objectiva

Conforme a chuva cai, a neblina rasga-se e desce, vai-se separando e mostrando vários trechos de terra. No caminho de pedra, molhado, algumas mulheres caminham, em direcção à igreja, vão apressadas, quase a correr. Numa das mãos trazem o guarda-chuva enquanto levantam com a outra as saias para que a água não as molhe. Não se via o rosto de nenhuma delas.

Descrição subjectiva:

A chuva cai intensamente levando a neblina a rasgar-se e a ir descendo, esfarrapando-se e pondo a descoberto vários trechos de terra, como se várias ilhas surgissem de um oceano de espuma. Sobre as pedras molhadas e escorregadias do sinuoso caminho, passam, apressadas, várias mulheres com o rosto coberto pelos guarda-chuvas que transportam numa das mãos, enquanto que, com a outra, levantam ligeiramente as saias, tentando protegê-las para evitarem que elas se molhem.

LEC 1

Exercício da semana - 1 
Imagine que se encontra num barco que começa a afastar-se de Lisboa (ou de outra qualquer cidade fluvial ou marítima). Faça uma descrição da cidade que tem na frente dos seus olhos (como se a cena se passasse fora do tempo. Isto é, como se descrevesse o que vê num ecrã de vídeo parado e onde o tempo está em suspenso. Limite-se, pois, neste exercício, a representar o espaço, seleccionando os elementos mais pertinentes e as naturezas ou “qualidades” mais variadas).

(por uma questão de necessária economia expressiva, solicita-se que não ultrapasse as dez linhas, ou seja, os 800 caracteres)

Trabalho

O Lobo Marinho afasta-se do cais acompanhado pelo grito estridente das gaivotas. O mar está calmo, embora aqui e ali se avistem cristas brancas de espuma que o vento levanta,  Perante os olhos dos passageiros que se juntam na amurada, o Funchal emerge da luz mágica do amanhecer, as casas brancas faiscando, encimadas por telhados vermelhos, ponteando as encostas de vários tons de verde que vão do esmeralda ao quase negro. Mais uma cor se junta a estas, o cinza das estradas que serpenteiam encosta acima e se entrelaçam com os farrapos de nuvens que, como linhas emaranhadas, se erguem dos vales profundos em direcção ao céu povoado de nuvens avermelhadas pelo sol.

LEC

Iniciei em Outubro o curso de ensino à distância do Instituto Camões -Laboratório de escrita criativa- nível introdutório, vou colocar aqui no blog os enunciados e os trabalhos que realizei e pretendo fazer o mesmo com o de nível avançado que se inicia a 15 de Fevereiro.