sábado, janeiro 22

LEC 5

Exercício da semana - 5

Leia atentamente o texto (em baixo) de José Rodrigues Miguéis.

Escreva dois epílogos, ou dois desenlaces, para o texto de José Rodrigues Miguéis, de acordo com a máxima acima referida: “dar ao leitor o que ele quer, mas não da forma como ele espera”. Não ultrapasse, em cada um dos textos, o máximo de oito a dez linhas.

“Fica o número 13...

Com este número odioso gravado na retina, ponho-me a andar a toda a pressa. Procuro as ruas mais estreitas, onde há menos luz e o movimento é menor. Na penumbra, avultam carroças de muares enormes e tranquilas roendo o jantar com as cabeças mergulhadas nas alcofas. Junta-as gente nas tabernas, donde sai um rumor grosseiro de vozes e de louças que se entrechocam, e um fumo acre de azeite queimado e peixe frito. Um fumo azul... Olho o céu: é noite fechada e, por cima dos telhados, alastra o clarão sanguíneo das luzes e passa confuso o clamor das buzinas dos autos.
- Perdão, queira desculpar...

Um moço de casaco amarelo esbarra comigo, ao sair duma tabacaria para pôr os taipais. São horas de fechar. Entro e peço um copo de água. Há luz de gás, como noutro tempo. Lembrou-me agora a Baixa vasta e sossegada, que a melancolia verde do gás iluminava, a Baixa da minha infância, com o seu ar tão simples e honesto, limpa e discreta... E sinto saudades.”

(José Rodrigues Miguéis, Páscoa Feliz, Estúdio Cor, Lisboa, 1974)

1 - “O Quê”: a própria ocorrência, os eventos que se actualizam no tempo. Proposta de emprego escolheram o número 13 e Tomás que era o número 5 foi rejeitado vagueia pela cidade a remoer o insucesso
2 - “Quem”: personagens (que geralmente se opõem e digladiam); - Tomás e empregado da tabacaria
3 - “Como”: o modo como se desenrolam as ocorrências;
4 - “Quando”: o momento em que tem lugar a ocorrência; 9 da noite
5 - “Onde”: a topografia onde se inscreve a ocorrência; ruas estreitas, parcamente iluminadas de Lisboa, calçadas, estreitas, casas baixas, antigas
6 - “Porquê”: a causa, a razão, ou o motivo que originou a ocorrência;
7 - “Porque”: consequência, ou súmula de resultados da ocorrência. 

Trabalho:

Epílogo 1

… E sinto saudades. 
Sinto saudades da infância, da vida pacata, das brincadeiras na rua com os amigos. São nove da noite e cá estou eu, ao balcão da Tabacaria no meio da praça, olhando as ruas estreitas, parcamente iluminadas, de casas baixas, antigas. Quero entabular conversa com o empregado mas a minha boca está seca, a água desce a custo pela garganta, o número treze continua a martelar-me a cabeça. Preciso que me salvem dos meus pensamentos, da demência, uma ocupação que me livre da obsessão que continuo a sentir pelo passado, pelo que foi, pela vida regrada, pelo emprego excelente que me proporcionava tantas regalias e que perdi naquele pano verde, na roleta, o maldito número treze.

Epílogo 2

… E sinto saudades.
O café decadente onde entrei está praticamente vazio, só um velho com roupa surrada, ao canto, fuma um cigarro sonolento. Sinto que o medo me invade, não devia ter estado naquele lugar àquela hora, agora a minha vida não vale nada, serei perseguido por todos os membros da irmandade, eles não perdoam a traição, tive o azar de estar no lugar errado à hora errada, treze horas e treze minutos, sinto passos apressados que se aproximam, os tacões batendo ritmicamente na calçada da rua estreita e escura, ela entra de súbito no café e olha-me sem piedade, sinto que a minha vida está prestes a terminar, que nada me salvará do inferno, olho-a procurando ainda um resquício de perdão mas ela é implacável e, num movimento imperceptível, atira a faca que atravessa a sala e se crava no meu coração.

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