sábado, janeiro 22

LEC 3

Exercício da semana - 3

Recrie o estimulante texto (em baixo) de José Rodrigues Miguéis, reescrevendo-o por duas vezes (podendo, em ambas as situações, adicionar ou subtrair palavras, de tal modo que os textos acabem, no final, por reflectir dois tipos diversos de descrição de personagens).

O primeiro deverá focar o movimento de fora para dentro (dando mais atenção aos motivos e aos estímulos ocasionais exteriores à personagem - procedimento dominantemente impressionista).

O segundo deverá focar o movimento de dentro para fora (reinventando a alma da personagem e dando assim mais atenção às suas possíveis mundivivências interiores - procedimento dominantemente expressionista).


“Madame Lambertin era flamenga à vista desarmada, e de maneiras bastante livres, mas com certa tinta bondosa. Devia passar bem dos trinta. Quando sorria, o sorriso enchia-lhe a cara toda. Tinha os olhos verdes e bastante vivos. Da janela do meu quarto passei a vê-la atravessar todos os dias a rua, a caminho da brasserie da esquina, em frente, onde ia aplacar um deus insaciável. Voltava com uma cabazada de garrafas de Gueze. Chegava a beber (soube-o depois) às dezoito e vinte por dia. Era decerto o que lhe estragava a frescura, ainda apreciável através da retícula vermelha que já lhe bordava as faces.”

(José Rodrigues Miguéis, Léah e Outras Histórias, Editorial Estampa, Lisboa, 1960)

Trabalho:

Texto 1

Todos os dias, da janela do meu quarto, a via passar. Madame Lambertim era alta, roliça e andava como se flutuasse por entre espigas de trigo maduro. Na face oval e rosada - emoldurada por caracóis ruivos que caíam suavemente, desmanchando-se, nas têmporas - destacavam-se os seus olhos verdes, líquidos e a boca de lábios rubros, carnudos, que se abria num sorriso amplo que a iluminava. Atravessava a rua na rotina diária de se dirigir à brasserie da esquina, onde se abastecia da sua bebida preferida, a cerveja Gueze, que bebia em quantidades generosas sem se preocupar com a teia de linhas vermelhas que lhe iam cobrindo as faces e tirando a frescura das suas mais de trinta primaveras.

Texto 2

Madame Lambertim, os seus olhos verdes emanando uma certa bondade, a vivacidade do seu caminhar, leve, flutuante. Uma doçura e um frescor de fruta silvestre. Quando todos os dias se dirigia à brasserie da esquina fazia-o com um sorriso largo estampado na sua face de pele translúcida, transpirando felicidade. A Gueze que todos os dias tomava desenhava-lhe nas faces linhas vermelhas, bebia-lhe a frescura e o vigor dos seus trinta e tal, quase quatenta anos, a plenitude outonal da sua beleza.

Sem comentários: