domingo, fevereiro 8

Livros de mais

"Um leitor que leia com atenção, reflicta, converse animadamente com outros leitores, se recorde e releia, pode ao longo da sua vida cruzar-se com milhares de livros. Um leitor prodígio, proposital, que manipule e consulte os livros com um objectivo específico pode ler alguns milhares raramente mais, e no entanto há milhões de livros à venda, dezenas de milhões nas bibliotecas, incontáveis milhões de manuscritos inéditos. Há mais livros para contemplar do que estrelas no céu nocturno no alto mar. No meio desta imensidade como encontrará o leitor a sua constelação pessoal, aqueles livros que colocarão a sua vida em comunicação com o universo e como pode um único livro entre tantos milhões encontrar os seus leitores. Nós os leitores, já sem falar nos autores, ficamos aborrecidos quando não encontramos aqui e agora o livro que queremos, parece-me difícil compreender porque acontece isso, face ao modelo explícito dum sistema de distribuição exaustivo, que permite todos os livros atingir qualquer recanto do universo. Mas os livros vendem-se ou emprestam-se em mais de um milhão de lugares dispersos pelo mundo, manter um exemplar de cada obra em cada um deles ultrapassaria a procura e reciprocamente não existe nenhum lugar no universo onde se possa encontrar um exemplar de todos os livros publicados nem mesmo na biblioteca do congresso americano. a distribuição de livros é sempre incompleta, imprevisível, escrever, publicar, distribuir, é lançar ao mar mensagens dentro de garrafas, incerto o seu destino, encontrá-las também incerto e contudo de tempos a tempos também o milagre acontece: um livro encontra o seu leitor e o leitor encontra o seu livro."  

De Livros de Mais  de Gabriel Zaid

2 comentários:

m.camilo disse...

E depois há aquele livro (raro) que gostamos tanto de ter lido que o emprestamos, como que obrigando alguém a gostar tanto como nós. E quando falo de um livro falo de um cd ou dvd com a "tal" música ou concerto.
Ora, comigo, acontece que sou "castigado" com tal atitude já que me esqueço (ou tenho dúvida) a quem emprestei e acabo por ter de voltar a adquiri-lo.
Não satisfeito com a experiência, volto a emprestar. E tudo recomeça.
Tenho vários exemplos mas há um deles que já vai na terceira aquisição e que dá pelo título "Carta ao Pai" de Franz Kafka....
Onde raio pára o sacana do livro, que foi reeditado quase 28 anos depois de o ter lido pela primeira vez? Juro que a última vez que o vi estava aqui na minha mesinha de centro, juntamente com os jornais e revistas de ocasião...juro que estava...que chatice!

Ana Ferreira disse...

:) isso sucedeu-me com o livro "Paula" da Isabel Allende, comprei, li, emprestei e fiquei sem ele, comprei de novo e emprestei de novo e fiquei sem ele de novo... vou ter de comprar de novo MAS DESTA VEZ NÃO EMPRESTO!!!!