segunda-feira, abril 18

Laboratório de escrita criativa - nível avançado - bloco 8

Publico só o exercício que criei, baseada num guião dado pelo Professor:

A Torre já tinha sido movida, ele não podia ter feito roque, não podia efectuar aquele lance, pensava de si para si Pedro Quevedo, enquanto os soldados lhe amarravam as mãos atrás das costas, junto ao muro branco carcomido por buracos de balas. Enquanto olhava para o muro continuava a pensar na jogada de xadrez do dia anterior, fez uma analogia entre aqueles buracos e a estratégia furada do major, aquela jogada não era permitida. Sempre fora correcto ao jogo como à vida, não podia deixar que alguém lhe ganhasse ao xadrez com base numa jogada proibida. Os soldados encostaram-no ao muro e, de frente para o pelotão de fuzilamento, encarou o major, ainda imberbe, que o comandava e atirou-lhe:
Não podia ter feito roque, a torre tinha sido movida.
Mirando as armas do pelotão apontadas a si, todo o caminho percorrido até chegar ali, àquele momento, passaram diante dos seus olhos como um filme super 8 a preto e branco. A batalha de Mavinga, tropas a correr de um lado para outro, confusão, barulho de disparos, a invasão do inimigo, os estampidos a troarem muito perto e a dor lancinante no ombro e na perna, o sangue, tentou rastejar mas não conseguiu, foi capturado. Passou vários meses num hospital de campanha, num tempo lento. 
Quando recuperou completamente foi levado num carro fechado numa viagem que durou várias horas. A viagem terminou no meio do mato, numa fortaleza com algumas edificações de madeira rodadas por uma paliçada alta. 
O xadrez servia para se distrair, iludir o passar do tempo, jogava com o jovem major, que talvez devido á sua juventude, para se impor como carcereiro, fazia os possíveis por vencer, nunca o conseguindo, recorrendo até, por vezes, a jogadas ilícitas.
Naquela tarde que sucedeu a uma dessas tentativas do major, ao fazer um roque quando a Torre já tinha sido movida, ele surgiu com um ar estranho, um olhar fugidio, como que envergonhado, evitando encarar Pedro Quevedo. Com ele vinham três homens que Pedro nunca vira, grandes e fortes. Dirigiram-se a ele e sem uma palavra içaram-no da cadeira e encaminharam-no com autoridade para um jipe.
Sentia-se perdido sem entender aquela mudança de actuação, sem possibilidades de intervir no seu destino, um sentimento de angústia, de perda, de fim irremediável e inevitável.

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