segunda-feira, abril 11

Laboratório de escrita criativa - nível avançado - bloco 7

“Flagstaff, Arizona. Um dia de arrasar. O resto do deserto. Monument Valley, como se tivesse sido criado apenas para o John Ford ali situar os seus westerns. Arranha-céus de rocha recortados no horizonte. O Grand Canyon, paisagem lunar sulcada por uma serpente sinuosa com a forma de rio. Dead Horse Point. Ponto onde os mustangs eram encurralados. Quando finalmente arranjámos hotel, era já demasiado tarde para outra coisa que não fosse comer hamburgers na cafeteria. Derreados de cansaço e pó, gastámos a noite a beber cervejas na varanda. Uma rotina a instalar-se nos nossos exercícios nocturnos. O Rogério e a Lena repetindo escaramuças sem fim. Uma espécie de ruído de fundo a que se não presta atenção. A Maria José trocando comigo palavras sobre o nosso dia. Lançando os planos também para o dia seguinte. Activa apenas a Clara, num frenesim de desenhos, notas visuais fazendo as vezes de uma máquina fotográfica. E recolhemos cedo. Desta vez, foi a Maria José que me desafiou a ir até ao quarto dela: for same serious drinking. O que fizemos até cerca da uma. Eu a falar, ao de leve, de Portugal, do meu trabalho, de pequenas coisas quotidianas. A Maria José a falar, ao de leve também, do que tinha sido a sua vida na América. Nenhum de nós disposto a abrir ao outro muito mais do que a sua face mundana.”
(Paulo Castilho, Fora de horas, Publicações D. Quixote, Lisboa, 1989, p.117)
Exercício - Bloco 7

Rescrever o texto de Paulo Castilho (ver “5 – Sublinhar a temporalidade das grandes viragens (os turns)”), mas alterando o espaço ambiente norte-americano para um outro espaço ambiente à sua escolha.

Exercício:

Madeira. Um dia de Verão. Penetramos, através de caminhos tortuosos, na floresta laurissilva. Descemos ao Ribeiro Frio ainda o sol está a pique no céu. Debaixo do arvoredo frondoso está fresco, há um jogo de luz e sombra que fascina. As várias tonalidades de verde recortam-se no céu azul. O grupo discute o que fazer, uns querem ir aos Balcões, outros preferem ficar por ali a ver as trutas. A Marta, a Luísa e o Gustavo decidem ficar a observar as azáleas carregadas de flores numa miríade de cores e as trutas saltando nos tanques, junto do ribeiro cantante. Caminhamos debaixo de uma abóbada de folhagem num caminho de terra batida. O silêncio reina, só quebrado pela água sussurrante da levada, pelo som dos nossos passos e pelo estalar de algumas folhas. Caminho junto do Antero e da Mariana, a Joana vem atrás com os outros, afasta-se de mim, uma metáfora do nosso casamento, que está por um fio. Passamos um túnel cavado na rocha e chegamos ao miradouro que se debruça sobre a paisagem ímpar. O céu sulcado por nuvens brancas volumosas, o verde a dominar com as casinhas espreitando.À direita a mole da Penha d’ Águia, ao fundo o mar incendiado pelo pôr-do-sol. Procuro a Joana com os olhos, vejo-a no varandim olhando embevecida a paisagem, pergunto-lhe se ainda há alguma possibilidade para nós, só recebo como resposta um olhar de repreensão, como se cometesse uma heresia por falar em frente àquela paisagem. Ficamos lado a lada, cada um indisponível para abdicar da sua posição. 

Sem comentários: