segunda-feira, abril 4

Laboratório de escrita criativa - nível avançado - bloco 6

Exercício - Bloco 6

Redija os dois clímax, intervalados pela cena de pacificação doméstica, correspondentes à segunda história encomendada pela Metropolitan a Patricia Highsmith (ver na matéria deste Bloco 8).
(não ultrapasse um máximo de trinta linhas e sinalize as três diferentes partes da narrativa em causa)

Exercício:

Chegaram de madrugada à casa de campo isolada. A lua de mel prolongar-se-ia por duas semanas, ela estava feliz, leve, apesar de cansada, ele aparentava contentamento. Enquanto Gustavo tirava as malas do carro ela foi até à cozinha fazer um chá, estava cheia de sede, não estava habituada a beber tanto champanhe. O ruído vindo da cave passou despercebido enquanto abria os armários e contabilizava mentalmente a comida armazenada.
No dia seguinte acordaram juntos e enquanto Gustavo foi à vila comprar pão fresco, Helena ficou a fazer o café e a abrir a casa para deixar o sol entrar. Desta vez ficou surpreendida e preocupada com um ruído de passos, pelo menos assim parecia, na cave, mas a chegada do marido distraiu-a. À hora de almoço, notou que lhe faltava um pacote de bolachas no armário e riu de Gustavo e da sua fome nocturna e quando ele negou não acreditou. Quando deu por falta de um frasco de compota que o marido comprara de manhã, associou-a aos ruídos da cave e, nervosa e aflita, pediu a Gustavo que fosse investigar. 
Este desceu à cave e fitou, espantado, o homem que o olhava com ar assustado.
- Quem é você e o que faz aqui? - perguntou empunhando o taco de basebol com que se munira.
- Não me faça mal, não tenho para onde ir, vivia na rua e entrei aqui para me recolher, como vi que a casa não estava ocupada fui-me deixando ficar, mas não roubei nada, só comida.
Mas você não pode continuar aqui, a minha mulher é que ouviu ruídos e vim investigar,ela não vai consentir que continue aqui.
Faço qualquer coisa, mas deixe-me ficar aqui mais uns tempos, preciso de reunir forças para me reerguer e sair do buraco em que se transformou a minha vida.
Gustavo pensou que aquele homem lhe podia ser muito útil, podia convencê-lo a simular uma agressão contra si e a fugir com o seu carro. Ele mataria Helena e depois armar-se-ia em vítima e correria para a vila culpando o desconhecido pela agressão de que fora vítima e pela morte de sua mulher. Ficaria livre e rico e casaria com Madalena, o seu amor de sempre.
Subiu da cave com toda a tranquilidade e disse a Helena:
- Não há nada na cave, minha querida, isso é tudo fruto da tua imaginação.
- Mas eu ouço barulhos e desapareceu comida da cozinha.
- Não pode ser, só cá estamos nós, com certeza só havia aqueles pacotes de bolachas no armário. Era talvez algum animal que já fugiu. Vamos dar uma volta, um passeio a pé pela região, vais ver que te faz bem.
Passaram o serão a ver televisão e ela esqueceu os ruídos da cave, até porque, por mais que apurasse o ouvido, nada se ouvia.
No dia seguinte estavam os dois na sala quando um homem, munido de um pedaço de madeira entrou subitamente. Helena gritou e correu para a cozinha enquanto Gustavo simulou atacar o homem que lhe respondeu com uma pancada na cabeça, deixando-o desmaiado. Quando voltou a si Gustavo viu, com horror, o homem estatelado no chão com um lenho aberto na cabeça, a sangrar e Helena a chorar, encostada na porta da cozinha com o moinho antigo de pedra na mão.

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