Sou muito sensível às vozes, ouço a bonita voz de António Manuel Pina, entrevistado por Carlos Vaz Marques, no Pessoal e Transmissível da TSF e apetece-me conhecer a sua poesia (do primeiro). E encontrei este poema no Relâmpago:
Arte Poética
Vai pois, poema, procura
a voz literal
que desocultamente fala
sob tanta literatura.
Se a escutares, porém, tapa os ouvidos,
porque pela primeira vez estás sozinho.
Regressa então, se puderes, pelo caminho
das interpretações e dos sentidos.
Mas não olhes para trás, não olhes para trás,
ou jamais te perderás;
e teu canto, insensato, será feito
só de melancolia e de despeito.
E de discórdia. E todavia
sob tanto passado insepulto
o que encontraste senão tumulto,
senão de novo ressentimento e ironia?
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