quinta-feira, maio 7

Os melhores «arranques» de romances

as minhas escolhas para a Ler:


«Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía haveria de recordar aquela tarde remota em que o pai o levou a conhecer o gelo.»

(Gabriel García Márquez, Cem anos de Solidão, Dom Quixote)


«Sou negro, mas sou rei. Talvez um dia mande inscrever no frontão do meu palácio esta paráfrase do canto da Sulamina Nigra sum, sed formosa. Com efeito, haverá maior beleza para um homem que a coroa real?»

(Michel Tournier, Gaspar Belchior & Baltasar, Dom quixote)


«Quando mais tarde na sua vida perguntavam a Tommy Zane qual a sua memória mais antiga, ele nunca hesitou. Era a da queima da Tenda Grande do Circo Lambeth»

(Marion Zimmer Bradley, Salto Mortal, Difel


«“Barrabás chegou à família por via marítima”, anotou a menina Clara com a sua delicada caligrafia. Já nessa altura tinha o hábito de escrever as coisas importantes e, mais tarde, quando ficou muda, escrevia também as trivialidades, sem suspeitar que cinquenta anos depois os seus cadernos me iriam servir para resgatar a memória do passado e sobreviver ao meu próprio espanto.»

(Isabel Allende, A Casa dos Espíritos, Difel)


«Continuarei a pintar o segundo quadro, mas sei que nunca o acabarei. A tentativa falhou, e não há melhor prova dessa derrota, ou falhanço, ou impossibilidade, do que a folha de papel em que começo a escrever: até um dia, cedo ou tarde, andarei do primeiro quadro para o segundo e depois virei a esta escrita, ou saltarei a etapa intermédia, ou interromperei uma palavra para ir pôr uma pincelada na tela do retrato que S. encomendou, ou naquele outro, paralelo, que S. não verá»

(José Saramago, Manual de Pintura e Caligrafia, Círculo dos Leitores)


«Por muito incongruente que possa parecer a quem não ande ao tento da importância das alcovas, sejam elas sacramentadas, laicas ou irregulares, no bom funcionamento das administrações públicas, o primeiro passo da extraordinária viagem de um elefante à áustria que nor propusemos narrar foi dado nos reais aposentos da corte portuguesa, mais ou menos à hora de ir para a cama.»

(José Saramago, A Viagem do Elefante, Caminho)


« A casa que os Maias vieram habitar em Lisboa, no Outono de 1875, era conhecida na vizinhança da Rua de S. Francisco de Paula, e em todo o bairro das Janelas Verdes, pela Casa do Ramalhete, ou simplesmente o Ramalhete. Apesar deste fresco nome de vivenda campestre, o Ramalhete, sombrio casarão de paredes severas, com um renque de estreitas varandas de ferro no primeiro andar, e por cima uma tímida fila de janelinhas abrigadas à beira do telhado, tinha o aspecto tristonho de residência eclesiástica que competia a uma edificação do reinado da senhora D. Maria I com uma sineta e com uma cruz no topo, assemelhar-se-ia a um colégio de Jesuítas. O nome de Ramalhete provinha decerto de um revestimento quadrado de azulejos fazendo painel no lugar heráldico do Escudo de Armas, que nunca chegara a ser colocado, e representando um grande ramo de girassóis atado por uma fita onde se distinguiam letras e números de uma data.»

(Eça de Quierós, Os Maias, Porto Editora)

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